Nº46 - JULHO DE 2017

Ponto de Vista

É possível ensinar jornalismo de qualidade a distância?

Por Marcelo Engel Bronosky*
 
Não é de hoje que universidades privadas brasileiras tentam aprovar projetos de ensino a distância (EAD) para o jornalismo. Até final do ano passado, o MEC (Ministério da Educação), com os mecanismos de regulação se recusava a aprová-los. No entanto, essa realidade mudou com a entrada do governo Temer e do ministro Mendonça Filho. Numa rápida investigação nos sites dos principais grupos particulares de ensino superior é possível encontrar ofertas de vagas para o modelo a distância em jornalismo, muitos deles sem nenhuma informação sobre seus currículos, corpo docente, infraestrutura, entre outros dados gerais. 
 
Em março, entidades ligadas ao jornalismo se reuniram com o Diretor de Avaliação de Ensino Superior (Daes), ligado ao Inep, professor Rui Barbosa de Brito Junior, com o objetivo de alertar da impossibilidade em atender as DCNs (Diretrizes Curriculares Nacional) da área no modelo de EAD. 
 
Questões como a supervisão de estágio, produção e acompanhamento de TCCs, além do ensino de conteúdos práticos, conforme determinam as DCNs, exigem acompanhamento presencial de professores da área, muitos in loco, que só são possíveis em cursos presenciais com laboratórios especializados.
 
As diretrizes são claras quando apontam a necessidade do acompanhamento na realização de processos de produção teórico-prático, na apuração e redação de conteúdos jornalísticos entre outras ações. 
 
Diante deste cenário de ofertas de EAD em jornalismo, como será ensinado aos estudantes, por exemplo, a “conduzir entrevistas” jornalísticas, como indicado pelas DCNs? Ou mesmo, como o INEP vai avaliar as instituições considerando “o espaço físico e as instalações adequadas para todas as atividades previstas, assim como o tamanho das turmas de alunos, que deve ser compatível com a supervisão docente nas atividades práticas”; sem falar das bibliotecas, inexistente nos polos, ou mesmo os laboratórios de rádio e telejornalismo. Muitas atividades só podem ser realizadas com o acompanhamento presencial de professores especializados.
 
A execução e avaliação de produtos laboratoriais é outro momento singular na formação de jornalistas que só pode ser realizado com a supervisão presencial de docentes. É neste momento que os estudantes tomam contato com práticas de produção noticiosa, se enfrentam com decisões editoriais, oportunizando experiências que se transformam em conhecimento a partir da supervisão direta de professores.
 
Na mesma linha, temos o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), momento de consolidação da formação acadêmica. Nesta ocasião, a participação docente dever ser ativa e direta, estando à disposição periodicamente dos estudantes, supervisionando-os, orientando-os tanto na realização do produto quanto da monografia. Nas atuais propostas de EAD, não se considera a possibilidade de acompanhamento periódico presencial e de forma individual. Questionado sobre essa e outras questões, o Diretor do Daes (Inep) se limitou a informar que, em se constatando eventuais irregularidades nas ofertas de cursos EAD, o MEC possui canal para receber denúncias. É muito pouco, considerando a óbvia impossibilidade de oferecer formação de qualidade em jornalismo sem o acompanhamento presencial de professores qualificados.
 
Os estudantes deste modelo serão prejudicados caso essa realidade não mude e as instituições que oferecem cursos de jornalismo no formato EAD não passem a considerar a supervisão direta e presencial de docentes da área, tanto para garantir o cumprimento das DCNs, como também para formar jornalistas com qualidade que nossa sociedade precisa. 
 
* Professor dos cursos de graduação e mestrado em Jornalismo da UEPG e presidente da Abej – Associação Brasileira de Ensino de Jornalismo (FNPJ)
 

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Ponto de Vista

É possível ensinar jornalismo de qualidade a distância?

Por Marcelo Engel Bronosky*
 
Não é de hoje que universidades privadas brasileiras tentam aprovar projetos de ensino a distância (EAD) para o jornalismo. Até final do ano passado, o MEC (Ministério da Educação), com os mecanismos de regulação se recusava a aprová-los. No entanto, essa realidade mudou com a entrada do governo Temer e do ministro Mendonça Filho. Numa rápida investigação nos sites dos principais grupos particulares de ensino superior é possível encontrar ofertas de vagas para o modelo a distância em jornalismo, muitos deles sem nenhuma informação sobre seus currículos, corpo docente, infraestrutura, entre outros dados gerais. 
 
Em março, entidades ligadas ao jornalismo se reuniram com o Diretor de Avaliação de Ensino Superior (Daes), ligado ao Inep, professor Rui Barbosa de Brito Junior, com o objetivo de alertar da impossibilidade em atender as DCNs (Diretrizes Curriculares Nacional) da área no modelo de EAD. 
 
Questões como a supervisão de estágio, produção e acompanhamento de TCCs, além do ensino de conteúdos práticos, conforme determinam as DCNs, exigem acompanhamento presencial de professores da área, muitos in loco, que só são possíveis em cursos presenciais com laboratórios especializados.
 
As diretrizes são claras quando apontam a necessidade do acompanhamento na realização de processos de produção teórico-prático, na apuração e redação de conteúdos jornalísticos entre outras ações. 
 
Diante deste cenário de ofertas de EAD em jornalismo, como será ensinado aos estudantes, por exemplo, a “conduzir entrevistas” jornalísticas, como indicado pelas DCNs? Ou mesmo, como o INEP vai avaliar as instituições considerando “o espaço físico e as instalações adequadas para todas as atividades previstas, assim como o tamanho das turmas de alunos, que deve ser compatível com a supervisão docente nas atividades práticas”; sem falar das bibliotecas, inexistente nos polos, ou mesmo os laboratórios de rádio e telejornalismo. Muitas atividades só podem ser realizadas com o acompanhamento presencial de professores especializados.
 
A execução e avaliação de produtos laboratoriais é outro momento singular na formação de jornalistas que só pode ser realizado com a supervisão presencial de docentes. É neste momento que os estudantes tomam contato com práticas de produção noticiosa, se enfrentam com decisões editoriais, oportunizando experiências que se transformam em conhecimento a partir da supervisão direta de professores.
 
Na mesma linha, temos o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), momento de consolidação da formação acadêmica. Nesta ocasião, a participação docente dever ser ativa e direta, estando à disposição periodicamente dos estudantes, supervisionando-os, orientando-os tanto na realização do produto quanto da monografia. Nas atuais propostas de EAD, não se considera a possibilidade de acompanhamento periódico presencial e de forma individual. Questionado sobre essa e outras questões, o Diretor do Daes (Inep) se limitou a informar que, em se constatando eventuais irregularidades nas ofertas de cursos EAD, o MEC possui canal para receber denúncias. É muito pouco, considerando a óbvia impossibilidade de oferecer formação de qualidade em jornalismo sem o acompanhamento presencial de professores qualificados.
 
Os estudantes deste modelo serão prejudicados caso essa realidade não mude e as instituições que oferecem cursos de jornalismo no formato EAD não passem a considerar a supervisão direta e presencial de docentes da área, tanto para garantir o cumprimento das DCNs, como também para formar jornalistas com qualidade que nossa sociedade precisa. 
 
* Professor dos cursos de graduação e mestrado em Jornalismo da UEPG e presidente da Abej – Associação Brasileira de Ensino de Jornalismo (FNPJ)